segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010


Luís Pedro Miguel
( Lisboa, 12/10/68)



Juramento Inacabado

Sabes o que deseja este meu corpo cansado?
Procurar abrigo nas alvas colinas dos teus seios.
Sepultar-me de semente e sangue em teu vazio
peito empedrado
E queimar o gelo desses olhos na fonte cristalina
do teu ventre.
Foram teus, estes braços  que se levantam
em desatino.
Teu foi este peito onde me contavas teu destino,
E agora neste silêncio a que nos prendeste
Nesta luz tênue que nos condenaste.
Serei o livro que na estante espera o que já é
esperado.



Acordar Louco

Hoje acordei com o sol lá fora e a névoa cá dentro.
Ambos são realidades da minha natureza,
O sol brilha que assim tem de ser e a  névoa
esconde as vergonhas da razão.
Cada um cumpre a sua função com distinção.
Um de iluminar e outro de ocultar.
Tenho uma fome no espírito:
Fome de loucura e desvario.
Eu que louco me tornei e vazio de gestos que me
alimentem a insana mente.
Fome de uma loucura que transborde e se afogue
Na inesperada certeza.
Sei que sou louco e na loucura espero a loucura
não chegada.
Ah ridículo aguardar!
Como se não soubesse que nada existe para além
da realidade!
Que a metafísica nada mais é que a minha vil
imaginação de poeta menor?
Querendo esquecer que do caminho para onde olho
nada virá se não o vento e a areia que me cegam os olhos!
Não sei nada disto por ser da loucura que espero
e não chega.
Merda! Pronto, disse!
Outros podem viver e rir e criar e se chamar de
poetas, mas eu não!
Eu que sou louco e de loucura esfomeado e sedento.
E esta névoa que minha névoa encerra.
Não sei o que esconde a minha humanidade
Se é somente esta forma de esperar o que, de
desespero já se avista.
Sim, louco sou! E ridículo e palhaço que, com os olhos
rasos de água, faz rir
Sim louco, e depois?
Louco por vazio de loucura me entregar a desditas
literárias que nada valem
E que acabam, invariavelmente num qualquer
caixote do lixo da memória!
Louco por desejar uma loucura onde descanse esta
mente exausta!
Onde, finalmente possa lavar meus olhos da areia,
que a espera me recompensa.



Realidade

Aqui neste silêncio me deleito em vida ou morte.
Aqui me sonho embalado neste sono de sorte.
Aqui somente só e amparadamente desamparado.
Em teus olhos me revejo nesse verde cinza
esperado
Nessa única maresia espraiado.
Em tipos em bosques e névoas assombrado.
Quero hoje fazer do teu abraço minha mortalha
Neste desejo onde me consumo
E consumindo renasço...calado, amordaçado.
Seja real esta minha memória
Seja uno este meu desejo bebido no cálice quente
do teu corpo.
Nada faz sentido. Tudo é metafísico!



http://dizcontos.blogspot.com/
http://10milimetros.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Jorge Aloy
Hola. Hay dos nuevas entradas en El perro elocuente. Podés hacer click en
http://elperroelocuente.blogspot.com