segunda-feira, 6 de outubro de 2008

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Theresa Russo
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ERAS

Antes
Porém essa noite eu lhe trouxe até a mim. Eu senti você, suas mãos e o seu cheiro. Senti o carinho e o cuidado que nunca tive de você até a mim. Essa noite eu criei você só para mim. Essa noite eu soube do seu desamor...
Durante
Não, não quero sobras. Eu me dei por inteira. Nas frações. Não quero beijos intercalados nem olhares entrecortados de sombras. Eu sempre olhei profundo. Não guardo imagens. Nenhuma delas importa para mim. Já havia me falado que eu já lhe tivera há épocas imensuráveis. No passado do passado eu havia novamente lhe perdido como agora. De fato, nunca lhe tive realmente. Não quero sobras. Eu me dei por inteira. Nas frações. Do que você viveu eu não posso alterar. Rotas às vezes não devem ser alteradas. Devem continuar rígidas, estáticas. Como marcos e impressões da vida que não podem ser apagadas. Elas deveras pertencem ao nosso eu. Quando migram das portas das entranhas e atingem o reflexo de meu eu no seu espelho, elas se portam como agulhas e lanças e dardos. Programaram a minha morte. Mas eu tenho mil vidas a viver...
Agora
Não quero sobras. Eu me dou por inteira. Quero o todo. Toda a fartura dessa mesa. Quero as madeixas, as melenas, as cenas e os desertos. Quero instalar os oásis e os pedágios dessa selva. Quero as falas, as alças e os tambores. Quero a vingança, a propriedade e a espera. Quero o começo da fila e o interromper da suas estrias. Quero o guia, os mapas e as rotas. Quero estabelecer as frotas, o carmim e o solo das sementes das rosas vermelhas que cuidei para não secar o tom. Quero hoje, quero agora, quero também no amanhã...
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Santificada - 2007

Theresa Russo

( Imagem de Nossa Senhora em grafite sobre papel)
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TAMBÉM EU

Eu

que me busco

Eu

que me encontro

Eu

que me escondo

que me mostro

Eu

que aposto

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Eu

que me ofendo

que me rendo

que me oferto

que me encanto

e desencanto

mar de ostras

crípta

leve pluma

peso de papel

sigo meu inferno

acho meu céu

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Eu

danoso blues

chapa de bronze

tela de amianto

chuva molhada

mente retorcida

nota errada

cor encarnada

e pontos azuis

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Eu

cuspe de néfron

jogo de carta marcada

saco de lixo

pele encadernada

nunca do acaso

mero capricho

eu divina

breve neblina

da madrugada

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Eu

vaso sem tinta

folha destacada

morcego da noite

ave adestrada

gaiola de zinco

semente guardada

Eu que queria quase tudo

Eu

que não tenho quase nada

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E de tanta dor

roí o pão da vida

E de tanto amor

corri como louca

ferida

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E de tão bela a flor

Retorno a vida

elástico longo

coração zeloso

eu que sou muito

eu que sou pouco

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O presente que não guardo para você...

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Theresa Christine F. R. Aragão Russo é aquariana, de 17/02/1959, reside em Fortaleza, no Estado do Ceará.É Professora Universitária, Doutora em Bioquímica e Biologia Molecular.Gosta de escrever, ouvir boa música e cinema. Suas grandes paixões são os livros e os carros.Cientista que sente a poesia como arte do viver e que a evolução é inclinada para o despertar das palavras poéticas. Gosto de música e literatura e sou apaixonada por Augusto do Anjos.
Acredito.Theresa Russo

http://www.ligia.tomarchio.nom.br/ligia_amigos_TheresaRusso.htm

http://www.gargantadaserpente.com/toca/poetas/theresarusso.php?poema=3

http://www.gargantadaserpente.com/toca/poetas/theresarusso.php?poema=2

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Um comentário:

Theresa Russo disse...

Sylvia, estou sem palavras e extremamente honrada por tua delicadeza..Poeta Maior, Sylvia cativa seus amigos com mimos..