domingo, 28 de setembro de 2008

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Divagações em uma noite
de primavera
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Deus está em todas as coisas...
( Foto da aprendiz de fotógrafa Sylvia Narriman )
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Sou habitante de um planeta errante.
Sou um ser contingente.
Não sou absolutamente necessária
pois, se o fosse, certamente viveria,
nessa habitação carnal que ocupo,
milênios e milênios...
Um dia fui como a minhoca
na terra escura e fria,
vivi feliz no humus fétido,
não atinei em algo maior,
além daquele primitivo e ignóbil mundo.
Tranqüila na minha pseudo-segurança,
um dia despertei para a realidade
e vislumbrei algo além das minhas
possibilidades latentes:
- Quero voar, voar como as borboletas!
Quero voar para além das trevas em que vivo!
Tateei em derredor, nesse mundo movediço,
procurei descobrir nesse breu
uma réstia de luz, um caminho
verdejante, onde pudesse sair
da estranha inquietação metafísica,
onde pudesse exercitar as minhas
desconhecidas potencialidades.
E encontrei muitas pessoas
seguindo na mesma direção...
Pareciam estar seguras daquele caminho,
o caminho dos dogmas, dos ritos,
das tradições, dos sistemas doutrinários,
seguras ao seguirem aquele pseudo-caminho...
Haverá um caminho-padrão, um credo-padrão
para mim, para aqueles homens?
Creio que não. A verdade é uma só, imutável,
mas os meus canais receptores são distintos
dos canais dos outros seres viventes.
Estariam errados os viajores cheios de fé,
que obedecem cegamente aos seus orientadores?
Creio que não. Não podemos atingir
a fase adulta sem passar pela infância
e pela adolescência das fases preliminares
das nossas crenças...
Não creio em nada que não seja concreto,
palpável. Hoje cedinho ouvi, na televisão,
um comentário interessante:
Deus é concreto, ou abstrato?
Há muitos anos aprendi que substantivo
concreto " era aquele que se podia pegar"
e abstrato, o contrário.
Depois, desaprendi, para reaprender
que os substantivos abstratos indicam ação,
qualidade e sentimentos ou emoção.
Sendo assim, Deus é concreto!
Eu vejo um mundo de suprema realidade,
uma realidade visível, mas sinto que há
uma realidade invisível , embora não tenha
experiência direta da mesma.
Como explicar os mistérios da vida?
Como explicar essa harmonia desarmônica no universo?
O big-bang, os buracos negros, os cometas, os planetas,
as estrelas, a vida no universo?
E transbordo em misticismo ao contemplar
o céu! Ali descubro as minhas origens...
Dentro de mim, as minhas verdades,
as minhas fontes de segurança,
e dispenso todas as seguranças externas...
A verdade é libertadora!
No meu silêncio, na minha solidão,
encontro Deus em tudo.
Esse é o meu caminho...
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Sylvia Narriman Barroso

3 comentários:

Unknown disse...

Boa Noite
Acabei de ler este seu trabalho que vem na linha do pensamento existencial
-De onde vim?
-Para onde vou?
-O que é que eu sou?
Vivo como a Sylvia e muito outros essa preocupação. Penso que todos terão estas preocupações, mas que não as conseguirão expressar de um modo tão claro como nos mostra neste seu trabalho.

Anônimo disse...

Alguém diria: Você é o máximo !! Eu digo: você é Excelência.
Gostei mesmo muito, então como disse o "Direitinho", leia os meus poemas : Quem Sou, De Onde Venho, Para Onde Vou.
Sylvinha desejo-lhe o melhor do Mundo, com o melhor dos beijos.
Bem-haja
O: Antonio Miguel/ Portugal

Anônimo disse...

Você escreve bem demais, Sylvia!. A sua palavra tem muita energia. Raciocínio límpido e é interessante a percepção de que o mundo é contingente. Wiener que criou a Cibernética afirmava que o mundo é contingente e probabilístico. E disso conclui-se que os Planos B são imprescindíveis. Heisemberg chegou ao Princípio da Incerteza.e mais uma vez cai por terra o determinismo em que muitos dogmas se sustentam ou sustentavam, inclusive os Físicos.. Enfim, tudo isso é um mundo e ainda há muito mundo a ser descoberto. Os percentuais de desconhecimento do nível de utilização da capacidade cerebral e o fato de não sabermos explicar onde andam os 90% da matéria existente no Universo, prenunciam a longa estrada a ser ainda percorrida se a humanidade não se auto-destruir como parece que está fazendo.

Parabéns pelo texto e pela página que está muito bonita. Gostei da harmonia que lhe dá suavidade mas também dos tons mais encarnados que a tornam mais quente. Aquelas hortências e os tons mais contrastantes deram muita vida à página.
Uma boa noite e uma ótima semana.
abraço.
Marco Bastos