sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Requinte



          No início, foi um desejo de amar, de viver uma história diferente, compartilhar, dar e receber, sem medo de ser feliz ou infeliz.
          - Olá.
          - Boa tarde.
          - Você mora no outro lado do mundo.
          - Tu também moras, não é?
          E riram e sonharam...Naquele instante nasceu uma história e uma história, para ser plena, tem que ter começo, meio e fim. Se ficar incompleta, surge um dilema: tudo que fica inacabado não germina e, se germina, não dá boas sementes e os frutos são pecos.
         - Querida, estarei chegando no vôo das sete, chegando para ti.
        Como são belos e mágicos esses momentos! Ao mesmo tempo, como as relações interpessoais são frágeis! Nutrem-se expectativas em relação ao outro e, quando não são correspondidas, resultam em decepção, às vezes em revolta e melancolia.
         Ele chegou, chegou na sua vida...para não ficar. Trouxe promessas e sonhos no olhar; no coração, incertezas, pegadas de desilusão; em terras distantes deixou um amor, uma paixão. Ela amou como nunca havia amado, escancarou as portas do seu coração, entregou-lhe o corpo, a alma. Amaram-se no quarto, no chão, na cama, na grama do jardim, ao luar. Como testemunhas as estrelas, a brisa do mar.
        - Gosto de mulher requintada. Minha ex-namorada era 10 anos mais velha do que eu, mas era vaidosa, elegante, fazia plásticas todos os anos, era esbelta, jovial e alegre, usava produtos ILUSÃO no corpo todo, era uma consumidora de roupas, sapatos, perfumes e cosméticos.
       - Não gosto de requinte. Sou simples. Nunca fiz plásticas. Compro minhas roupas no Beco da Poeira. Mas, se você deseja uma múmia, procure em um museu.
       Insatisfeito em seus anseios, ele partiu.
      - Olá. Sou blá-blá-blá.
      - Alô, queridinho. Eu sou a outra metade do blá-blá-blá.
      - Tu és requintada?
      - Claro que sou, meu tesão! Só uso camisolas e calcinhas de lingerie importadas, perfume ILUSÃO, máscara facial ILUSÃO, plástica ILUSÃO.
      - Pois embarcarei hoje mesmo nesse avião. Amanhã chegarei aí, chegarei para ti.
       Retornou. Abriu a porta e foi ao jardim. Não havia alegria no seu coração, na sua alma. Os produtos ILUSÃO resultaram em ilusão.
      A mulher requintada continuou no seu mundo de cosméticos, perfumes, academias de ginásticas e roupas de marca.
      - Ainda te amo - colocou estas três palavras em um site de relacionamentos. E ele leu.
      A outra - vestiu sua camisola, contabilizou perdas e ganhos e dormiu, serena, nos braços do luar...A história? Continua inacabada...


Sylvia Narriman Barroso
.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei a escrita, o pensamento, a imaginação e a arte !!!!!!!!
Bem-haja
António Miguel

Anônimo disse...

Minha cara Silvia, não podes imaginar o meu encanto ao ler tua escrita. Como são superficiais e fúteis as pessoas de hoje em dia.
Bem-haja!

Manoel Oliveira

Espero-te no meu blogger. Vai lá. Já tens o endereço.