segunda-feira, 8 de setembro de 2008

.
.
Poemas da Madrugada
.
.
Ciúmes...
No varal,
o teu vestido
dançando
nos braços do vento!
.
.
Afonso Estebanez
( 1943 - Rio de Janeiro)
.
.
PRIMEIRA ROSA DE DELOS
.
Eu conto as noites e reconto os dias
faço de tudo por chegar com pressa
pelos segredos que a mim contarias
no desempenho de gentil promessa.
.
E aqueço a alma com as noites frias
padeço dores que o doer não cessa,
enfuno o amor e agito as calmarias
das cinzas frias da paixão confessa.
.
Encanto flores num chorar de rosas
e pelos olhos das manhãs chuvosas
entro no arco-íris do regato em flor.
.
E tudo em mim reflete o desespero
por escutar da margem do canteiro
a rosa me chamar de “meu amor”!
.
.
.
JORNADA
.
Eu marco meus desencontros
de mim mesmo em alvoradas
para que dos meus encontros
as manhãs não fiquem tardas.
.
Os sonhos que tenho prontos
são de outras vidas passadas,
mas retraço seus reencontros
quando estão desencontradas.
.
Não pergunto nem respondo
de chegar eu não sei quando
aonde o amor é minha fome.
.
Pouco importa o entardecer
se na aurora eu vou morrer
da paixão que me consome...
.
.
.
AVE DE EMIGRAÇÃO
.
Minha vida é o impulso da certeza
de um pássaro que emigra do deserto
e traça o vôo noturno de uma estrela
pelos mares de luzes do universo...
.
Pensarão que minha alma é suscetível
de um breve pouso n’algum porto adverso
onde ancoram os restos impossíveis
da loucura intangível que professo...
.
Mas os meus rios rolarão sem trégua
até que a paz consuma os seus vestígios
e os ventos se apascentem sobre as águas
e o mar se acalme sobre meus sentidos...
.
Nenhum rumor se elevará da noite
nem mesmo um sopro escapará da brisa
por onde o corpo durma e a alma escute
uma canção que nunca foi ouvida...
.
Serei a luz da sombra fugidia
alma emigrada de minh’alma afim...
E todos pensarão que é agonia
a exaltação do amor dentro de mim!
.
.
.
AMOR RENDIDO
.
Ontem fiquei aturdido
com a tua despedida...
Era meu anjo perdido
num labirinto da vida.
.
Num instante refletido
deixei a alma partida
e a parte reencontrada
ficou em parte perdida...
.
A noite recém-nascida
nasceu do tempo vivido
vem aurora adormecida
no crepúsculo exaurido.
.
E minha alma dividida
entre céu e chão batido
transparece agradecida
pelo não compreendido.
.
E tu me entregas rendida
o que te entrego perdido
sabendo que minha vida
já te havia pertencido...
.
.
.
POEMA DE PEDRA
.
Eu pedra bruta do tempo
que me passou esquecido
no inventário do momento
de viver de eu ter morrido
percorro o longo decurso
de todo o tempo perdido.
.
Eu profetas de gomorras
ruir de torres tombadas
sodomas de meus sentidos
de extintas almas salgadas
artesão de antigos sonhos
de mãos rudes algemadas.
.
Eu perdido se me encontro
sensível ao que não sente
descaminho de um futuro
de algum passado presente
vou pedra fingindo a carne
e sangue fingindo a gente.
.
Eu castelos de crepúsculos
naus sombrias sobre vagas
eu mortalha dos moluscos
de esperanças naufragadas
faz-se em mar a minha vida
das marés que são choradas.
.
Eu templo de deuses mortos
becos tortos sem calçadas
vendo o mundo das janelas
que o amor deixou fechadas
sou um elo entre essas vidas
que se atraem separadas.
.
Hoje sou pastor de rios
sentinela das colinas
mirante das fortalezas
nas ameias das neblinas...
É por mim que à noite
os ventos vêm chorar
sobre as ruínas.
.
.
.
MEU SER POETA
.
Não pensei em ser poeta
mas a vida quis por mim:
planto lágrimas na pedra
e o que é dor vira jardim.
.
Não tão fácil é ser poeta
e tão fácil mesmo assim:
ser o princípio da guerra
pela paz que vem no fim.
.
Mas em terras de poeta
toda rosa é a alma afim
e em minha lida secreta
cada rosa é meu jardim.
.
Vou deixar de ser poeta
para ser meu querubim:
guardar na vida deserta
uma flor dentro de mim.
.
(Dedicado ao poeta Luiz Fernando Prôa
pelo seu aniversário – Agosto.24.2008)
.
.
.
ALMA DE POETA
.
Exuma desse amor que a poesia
é dom da liberdade de um poeta
como a aurora na estrela luzidia
é dom do novo dia que desperta...
.
As almas dos poetas são magia
onde o ser infinito se completa
em espasmos de paz ou agonia
feliz de reviver só do que resta...
.
Poeta não é presa dos sentidos
é o exílio dos pássaros banidos
de alma livre e cativa se quiser...
.
Só há um ser de amor e alma repleta
capaz de cativar a alma de um poeta:
é o ardoroso coração de uma mulher...
.
.
.
ANJO MEU
.
Nem alegre nem tristonho
nem chegada nem partida
anjo meu leva meu sonho
mas me deixa minha vida.
.
Anjo chora quando canta
anjo canta quando chora
anjo meu me desencanta
se me fica ou vai embora.
.
Algumas vezes me acena
como se estivesse vindo...
Mas é um anjo com pena
da pena de estar partindo.
.
Quase nunca compreendo
anjo quase compreendido
Mas às vezes não entendo
porque anjo anda perdido...
.
.
.
A FOTO NA PAREDE
.
Meu retrato na parede
só traz uma novidade:
o fundo tinto de verde
ficou tinto de saudade.
.
O olhar pálido de sede
no poço da eternidade
é a luz filtrada na rede
da grade da liberdade.
.
Uma ruga me comove
de ter restado na vida
do nada que me ficou.
.
E só o sonho se move
na retina amanhecida
desta foto que restou.
.
(Dedicado com muito carinho
à amiga Lucia Borini Simões)
.
.
.
EPITÁFIO...
.
Guardei banais segredos dos amores de criança
dos mistérios da infância ouvi apenas por tolice
contei parábolas de amor porque o próprio amor
predisse que na vida viveria só dessa lembrança
de reviver das cinzas de uma flor do apocalipse...
.
E das águas correntes desse rio em minhas veias
de onde doce fluísse uma canção jamais ouvida...
Talvez de alguma fonte de desejos clandestino
sou dos prazeres matutinos de profanas ladainhas
dos arcanjos decaídos de meus sonhos suicidas...
.
Apraz-me então morrer dos místicos presságios
de quem padece lentamente da secreta liturgia
de reencontrar-me pelo acaso de um momento
em que a parte encantada de mim fosse a magia
desse feitiço de poder-me amar além do tempo...
.
E era tudo o que a alma não defesa pretendia...
E para muito além do que muito além de mimo
nde jaz meu pássaro cantor de súbito abatido
concebido me fosse então morrer de desamor
se reviver de amor a mim não fora concebido...
.
.
.
DESENCONTRO
.
Foi do esperado
que o ter perdido
me fez ter sido
desesperado.
.
O ter perdido
foi de viver
do haver morrido...
.
O ter vivido
foi de morrer
da haver sonhado.
.
Foi do encontrado
que o ter vivido
me fez ter sido
desencontrado...
.
.
.
DEVANEIOS DA INSÔNIA
.
O que faz eterno o instante
em que você ressurge da noite
coroada a face de sorrisos
é o que me diz o amanhecer
dos lírios de como já nasci
de braços abertos.
.
Já falei a você das folhas que caíram
e do sofrimento levado pelo outono
deixado em cada sombra de seu rosto.
.
Já mostrei como do fruto renovado
o renascimento da vida é infinito
como o cio das cigarras é o destino
que se cumpre no silêncio da resina.
.
Você consome o canto e os sonhos
e os mistérios a esmo desvendados
e deixa esse sinal de impenetrável
ausência nas minhas mãos vazias...
.
Mas onde houver a paz dos rios
tangidos pelos caminhos bebidos
de minha boca, eu irei beirando
as margens inventariadas no rol
dos padecimentos...
.
Só me resta esperar que esta noite
você volte a embalar com beijos
meu sono perdido...
.
.
.
COM A ALMA NUA
.
Fica-me a alma estacionada
em minha sombra ancorada
entre as sombras do jardim.
.
Vem a lua e a noite é longa
mas por debaixo da sombra
a alvorada escorre em mim.
.
Cada flor me encanta tanto
que a brisa volta do campo
com as vestes dos arco-íris.
.
Fica-me a alma pela aurora
e o amor prendendo a hora
pra de mim jamais partires.
.
Vai-me a lua embora enfim
mas o amor de tu’alma nua
já escorreu dentro de mim!
.
(Dedicado carinhosamente à amiga
Maria Catherine – “Maria Maria Amo”)
.
.
.
UM SONETO
PARA AUGUSTO DOS ANJOS
.
Ser ou não ser é a questão da vida
que a espécie fratricida desvendou
gerando a flor do bem numa ferida
que a gênese do mal jamais curou.
.
Quanta pena de mim chora fingida
como se fosse pranto o que penou.
Mas é somente a dor compadecida
penando pela dor que não causou.
.
A luz que me acendia agora apaga
a mão que me feria inda me afaga
amor de bem-querer não é paixão.
.
Meu ser ainda é o lobo de meu ser
pela pátria não posso mais morrer
o amor, enterrem no meu coração.
.
.
.
BOA NOITE MEU AMOR...
.
Boa noite, meu amor!
O mar acalma na brisa
essa é a hora de voltar...
A brisa acalmar o vento
os sonhos o pensamento
que não cessa de gritar
nessa noite numerosa
entre as ondas sinuosas
dos caminhos do luar...
.
Boa noite, meu amor!
Sem os muros dos rochedos
sem nenhum setembro negro
sem mistérios nem segredos
sem os medos de voltar...
.
Boa noite, meu amor!
É destino o amanhecer
para a noite descansar...
Bom sonhar enquanto é tempo
bom de morrer ao relento
bom de renascer no mar...
.
.
.
Perfil II - A. Estebanez e a Magia da Expressão Literária
.
Blogspot de Afonso Estebanez - Homenagem de Kênia Bastos http://afonsoestebanez.blogspot.com/
.
Blogspot de Memória Fotobiográfica de Afonso Estebanez -
Homenagem de Kênia Bastos
.
Afonso Estebanez - Homenagem de Maria Madalena Schuck
.
Academia Brasileira de Poesia
.
Poetas del Mundo
.
Alma de Poeta
.
Poesia Ibero-Americana
.
Afonso Estebanez - Prêmios 2007 -
.
Afonso Estebanez - Filho Ilustre de Cantagalo-RJ
.
Afonso Estebanez em "O Rebate" - Homenagem da poetisa Marta Peres
.
Poeta Afonso Estebanez no Google
.
Afonso Estebanez iniciado na Confraria Poética I-RS
.
Comunidade Afonso EstebanezHomenagem do poeta Marcelo Mourãohttp://www.orkut.com/community.aspx?cmm=47612673&refresh=1
.
Comunidade II - A Literatura de A. Estebanez
.
Recanto das Letras
.
Afonso Estebanez e suas poesias -
Homenagem da poetisa Cláudia Gonçalves - almadepoeta
.
Poetas Contemporâneos -
Suas Obras/Afonso Estebanez - Homenagem de Sandra Almeida
.
Poesia de Afonso Estebanez - Homenagem de Sylvia Narriman
.
A. Estebanez iniciado na Com. Poemas e Cia Ano II-PA
.
.

Nenhum comentário: