sábado, 2 de agosto de 2008















Sylvio Adalberto
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Parábola da Ave Cativa
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Quem guardará na noite o frágil ninho,
Que já foi lar, já foi refúgio e cama?
E canto sim , mas meu canto reclama
Por não voar e por viver sozinho.
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Fui concebido para voar. Definho
sem o cheiro do mato, a flor na rama.
Sou da floresta vida e luz e a trama
Da cor que põe beleza no caminho.
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Sei que corre a cascata e geme o vento,
E isso não muda minha realidade
E nem aplaca tanto sofrimento...
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E aqui estou preso pelas mãos de um louco,
Longe da tão amada liberdade
Cada dia que nasce morro um pouco.
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No Cais
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Quantos olhos perdidos vasculharam
este fundo de céu desabitado...
Em frangalhos, difusas silhuetas
balouçantes nas águas complacentes.
Rostos brancos de velas que se esfumam,
fantasmas desbotados dos adeuses,
de náufragos boiando em terra firme,
bracejando na escura solidão.
Quis partir para terras mais distantes
que não fossem meus próprios pensamentos...
Esperei minha vez com paciência,
na bagagem, ardor, meus poucos sonhos
e um desejo de fuga que me impele
a perder-me no fundo de mim mesmo,
o remoto país que desconheço.
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Sylvio Adalberto, do livro Silêncio Alucinado, 1993.
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Parábola das Fronteiras
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Há um morto pesado de balas
com os olhos cravados no espaço.
Na mão esquerda uma bandeira rota
que não chegou ao chão que era destino.
As labaredas
purificam a terra conspurcada.
Há marcas vigiando na divisa
são linhas poliglotas
como a dizer bem alto: quem vem lá!
Mas o homem sabe que a terra é uma só
e que a paz e a liberdade
não são alcançadas sem sangue,
e as fronteiras são meras marcas no chão
de cuspe ou giz.
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Sylvio Adalberto é petropolitano, poeta e contista, Presidente da Academia Brasileira de Poesia; Membro Titular da Cadeira 8 da Academia Petropolitana de Letras. Faz parte do conselho editorial do jornal Poiésis - Literatura, Pensamento & Arte. Por muitos anos colaborou na imprensa petropoliatana. Autor do livro Silêncio Alucinado agraciado com o prêmio Carauta de Souza da Academia Petropolitana de Letras, 1993.

Um comentário:

Conceição Bentes disse...

Oi meu poeta

Lindo seu blog, suas poesias que me encantam, e a sua preucupação com o meio ambiente, tão raro isso.
Eu como biologa, sinto-me presenteada
bjos

Ceição Bentes