sexta-feira, 1 de agosto de 2008


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Cinco poemas da madrugada
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Amigos, pretendo, se o tempo estiver a meu favor, postar diariamente cinco poemas que julgo de excelente qualidade, independente do autor. Vamos começar essa tarefa hoje. Espero que gostem.
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Comboio
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Por sobre as águas cismam os ventos,
cismam os ventos sobre as águas.
Os navios sonolentos
lá vão sobre as águas...
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À proa levam esperanças,
na popa pressentimentos.
O mar desafia ondas mansas,
enquanto cismam os ventos.
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A água leva e traz os navios
e os pensamentos...
A viagem é dos navios
mas quem comanda são os ventos.
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Onestaldo de Pennafort — Nuvens da Tarde
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Poema a um patriota
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Um dia, ao meio dia,
o exército veio,
com o sorriso das grandes marchas veio,
postou-se à porta da tua morada
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Levou a flor,
a folha,
o filho
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Até hoje
continuas à porta de tua morada.
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Lindolf Bell — Arrebentação
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Esperança
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O aroma ideal
deixou o jardim e a esperança
de regressar.
Mas hei de respirá-lo
quando timidamente se abrir
alguma flor anônima
na orvalhada manhã
que não vai tardar.
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Elias Leite — Caminho de Versos
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Tempo e Lugar
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Não mais importa onde,
só o que importa é quando:
vai-se o espaço alongando,
mas o tempo se esconde.
Suba pedido ou mando,
na mais copiosa fronde
nem um fruto responde
à hora que está murchando
Sombra no chão, a vida,
adiada e arrependida,
neste chão entrará.
No quadrante absoluto
(viagem, asa, minuto)
mais nada é, nem será.
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Abgar Renault — Thanatos
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Poema
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Uma expressão sublime,
De um desejo intenso,
Porque em ti penso.
Sem formas definidas mas marcadas.
Rasgadas.
Aguça-me a vontade de saber quem és,
Da cabeça aos pés.
Procuro-te.
Vejo-te, mas não te descortino.
Permaneces envolta na nuvem,
Desconhecida.
Canto-te um poema.
O meu tema.
Estarás adormecida?
Escondida?
Insensível?
Um jogo incrível
Um desaforo.
Só no poema te encontro, imagino.
Linguagem do pensamento.
Limite do infinito.
Onde permaneço aflito
Nessa procura desmesurada, incontida
Saciada, apenas porque lida.
Só pelo poema…
Tenho pena.
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Antonio Manuel Martins Miguel

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