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Omar Ibn Ibrahim El Khayyam
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Olha com indulgência aqueles que se embriagam;
os teus defeitos não são menores.
Se queres paz e serenidade, lembra-te
da dor de tantos outros, e te julgarás feliz.
os teus defeitos não são menores.
Se queres paz e serenidade, lembra-te
da dor de tantos outros, e te julgarás feliz.
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Que o teu saber não humilhe o teu próximo.
Cuidado, não deixes que a ira te domine.
Se esperas a paz, sorri ao destino que te fere;
não firas ninguém.
Que o teu saber não humilhe o teu próximo.
Cuidado, não deixes que a ira te domine.
Se esperas a paz, sorri ao destino que te fere;
não firas ninguém.
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Busca a felicidade agora, não sabes de amanhã.
Apanha um grande copo cheio de vinho,
senta-te ao luar, e pensa:
Talvez amanhã a lua me procure em vão.
Apanha um grande copo cheio de vinho,
senta-te ao luar, e pensa:
Talvez amanhã a lua me procure em vão.
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Que pobre o coração que não sabe amar
e não conhece o delírio da paixão.
Se não amas, que sol pode te aquecer,
ou que lua te consolar?
e não conhece o delírio da paixão.
Se não amas, que sol pode te aquecer,
ou que lua te consolar?
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É inútil a tua aflição;
nada podes sobre o teu destino.
Se és prudente, toma o que tens à mão.
Amanhã... que sabes do amanhã?
nada podes sobre o teu destino.
Se és prudente, toma o que tens à mão.
Amanhã... que sabes do amanhã?
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Além da Terra, pelo Infinito,
procurei, em vão, o Céu e o Inferno.
Depois uma voz me disse:
Céu e Inferno estão em ti.
procurei, em vão, o Céu e o Inferno.
Depois uma voz me disse:
Céu e Inferno estão em ti.
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Na sombra azulada do jardim
o ar da primavera renova as rosas
e ilumina os meigos olhos da minha amada.
Ontem, amanhã... é tão grande o prazer agora.
o ar da primavera renova as rosas
e ilumina os meigos olhos da minha amada.
Ontem, amanhã... é tão grande o prazer agora.
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Não me lembro do dia em que nasci;
não sei em que dia morrerei.
Vem, minha doce amiga, vamos beber desta taça
e esquecer a nossa incurável ignorância.
não sei em que dia morrerei.
Vem, minha doce amiga, vamos beber desta taça
e esquecer a nossa incurável ignorância.
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É inútil te afligires por teres pecado;
também é inútil a tua contrição:
além da morte estará o Nada,
ou a Misericórdia.
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também é inútil a tua contrição:
além da morte estará o Nada,
ou a Misericórdia.
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O vasto mundo: um grão de areia no espaço.
A ciência dos homens: palavras. Os povos,
os animais, as flores dos sete climas: sombras.
O profundo resultado da tua meditação: nada.
A ciência dos homens: palavras. Os povos,
os animais, as flores dos sete climas: sombras.
O profundo resultado da tua meditação: nada.
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Eu estava com sono e a Sabedoria me disse:
A rosa da felicidade não se abre para quem dorme;
por quê te entregares a esse irmão da morte?
Bebe vinho; tens tantos séculos para dormir.
A rosa da felicidade não se abre para quem dorme;
por quê te entregares a esse irmão da morte?
Bebe vinho; tens tantos séculos para dormir.
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Admito que já resolveste o enigma da Criação;
e o teu destino? Aceito que desvendaste a Verdade;
e o teu destino? Está bem, viveste cem anos felizes
e ainda tens muitos para viver; e o teu destino?
e o teu destino? Aceito que desvendaste a Verdade;
e o teu destino? Está bem, viveste cem anos felizes
e ainda tens muitos para viver; e o teu destino?
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Ninguém desvendará o Mistério. Nunca saberemos
o que se oculta por trás das aparências.
As nossas moradas são provisórias, menos aquela última.
Não vamos falar, toma o teu vinho.
o que se oculta por trás das aparências.
As nossas moradas são provisórias, menos aquela última.
Não vamos falar, toma o teu vinho.
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Olha, um dia a alma deixará o teu corpo
e ficarás por trás do véu, entre o Universo
e o desconhecido. Enquanto não chega a hora,
procura ser feliz. Para onde irás depois?
e ficarás por trás do véu, entre o Universo
e o desconhecido. Enquanto não chega a hora,
procura ser feliz. Para onde irás depois?
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Os sábios mais ilustres caminharam nas trevas da ignorância,
e eram os luminares do seu tempo.
O que fizeram? Balbuciaram algumas frases confusas,
e depois adormeceram, cansados.
e eram os luminares do seu tempo.
O que fizeram? Balbuciaram algumas frases confusas,
e depois adormeceram, cansados.
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Aquele que criou o Universo e as estrelas
exagerou quando inventou a dor.
Lábios vermelhos como rubis, cabelos perfumados,
quantos sois no mundo?
exagerou quando inventou a dor.
Lábios vermelhos como rubis, cabelos perfumados,
quantos sois no mundo?
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Sono sobre a terra, sono debaixo da terra.
Sobre a terra, sob a terra: homens deitados.
Nada em toda a parte. Deserto.
Homens chegam, outros partem.
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Sobre a terra, sob a terra: homens deitados.
Nada em toda a parte. Deserto.
Homens chegam, outros partem.
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Enquanto o rouxinol lhe entoava um hino,
murchou a bela rosa por causa do vento sul.
Lamentaremos por ela ou por nós?
Quando morrermos, outra rosa desabrochará.
murchou a bela rosa por causa do vento sul.
Lamentaremos por ela ou por nós?
Quando morrermos, outra rosa desabrochará.
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Se não tiveste a recompensa que merecias,
não te importes, não esperes nada;
já estava tudo nas páginas daquele livro
que o vento da eternidade vai virando ao acaso.
não te importes, não esperes nada;
já estava tudo nas páginas daquele livro
que o vento da eternidade vai virando ao acaso.
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Quando me falam das delícias que na outra vida
os eleitos irão gozar, respondo:
Confio no vinho, não em promessas;
o som dos tambores só é belo ao longe.
os eleitos irão gozar, respondo:
Confio no vinho, não em promessas;
o som dos tambores só é belo ao longe.
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Bebe o teu vinho. Vais dormir muito tempo
debaixo da terra, sem amigos, sem mulheres.
Confio-te um grande segredo:
As tulipas murchas não reflorescem mais.
debaixo da terra, sem amigos, sem mulheres.
Confio-te um grande segredo:
As tulipas murchas não reflorescem mais.
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O bem e o mal se entrelaçam no mundo.
Não agradeças ao Céu
pela sorte que te coube, nem o acuses:
Ele é indiferente.
Não agradeças ao Céu
pela sorte que te coube, nem o acuses:
Ele é indiferente.
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Se em teu coração cultivaste a rosa do amor,
quer tenhas procurado ouvir a voz de Deus,
ou esgotado a taça do prazer,
a tua vida não foi em vão.
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quer tenhas procurado ouvir a voz de Deus,
ou esgotado a taça do prazer,
a tua vida não foi em vão.
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Vai com prudência, viajante.
A estrada é perigosa, a adaga do destino
é acerada. Não colhas as amêndoas doces,
são venenosas.
A estrada é perigosa, a adaga do destino
é acerada. Não colhas as amêndoas doces,
são venenosas.
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Ouve o que a Sabedoria diz todos os dias:
A vida é breve.
Não te esqueças, não és como certas plantas
que rebrotam depois de cortadas.
A vida é breve.
Não te esqueças, não és como certas plantas
que rebrotam depois de cortadas.
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Mestres e sábios morreram
sem se entenderem sobre o Ser e o Não Ser.
Nós, ignorantes, vamos apanhar as tenras uvas;
que os grandes homens se regalem com as passas.
sem se entenderem sobre o Ser e o Não Ser.
Nós, ignorantes, vamos apanhar as tenras uvas;
que os grandes homens se regalem com as passas.
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O meu nascimento não aumentou o Universo,
nem a minha morte lhe fanará o esplendor.
Ninguém me dirá por quê vim ao mundo,
ou porquê um dia irei embora.
nem a minha morte lhe fanará o esplendor.
Ninguém me dirá por quê vim ao mundo,
ou porquê um dia irei embora.
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Iremos nos perder na estrada do amor,
e o destino nos pisará, indiferente.
Vem, menina, taça encantada, dá-me de beber
em teus lábios, antes que eu me torne pó.
e o destino nos pisará, indiferente.
Vem, menina, taça encantada, dá-me de beber
em teus lábios, antes que eu me torne pó.
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Não te inquietes, a vida é como um suspiro.
As cinzas de Djenchid e de Kai-Kobad volteiam
na poeira vermelha que tolda o ar.
O Universo é uma miragem, a vida é um sonho.
As cinzas de Djenchid e de Kai-Kobad volteiam
na poeira vermelha que tolda o ar.
O Universo é uma miragem, a vida é um sonho.
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Não temo a morte. prefiro esse ato inelutável
ao outro que me foi imposto no dia em que nasci.
O que é a vida, afinal? Um bem que me confiaram
sem me consultarem e que entregarei com indiferença.
ao outro que me foi imposto no dia em que nasci.
O que é a vida, afinal? Um bem que me confiaram
sem me consultarem e que entregarei com indiferença.
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Um pouco de pão, um pouco de água,
a sombra de uma árvore, e o teu olhar;
nenhum sultão é mais feliz do que eu,
e nenhum mendigo é mais triste.
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a sombra de uma árvore, e o teu olhar;
nenhum sultão é mais feliz do que eu,
e nenhum mendigo é mais triste.
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Falam de um Criador...
e Ele deu forma às criaturas para destruí-las?
Por que são feias? Por que são belas?
Quem é o responsável? Não compreendo nada.
e Ele deu forma às criaturas para destruí-las?
Por que são feias? Por que são belas?
Quem é o responsável? Não compreendo nada.
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Todos pretendem andar pelo Caminho do Saber.
Uns o procuram, outros afirmam tê-lo encontrado.
Um dia uma grande voz dirá: Não há caminho,
nem atalho.
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Uns o procuram, outros afirmam tê-lo encontrado.
Um dia uma grande voz dirá: Não há caminho,
nem atalho.
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No turbilhão da vida são felizes aqueles
que presumindo saber tudo não se instruem.
Fui buscar os segredos do Universo e voltei
invejando os cegos que encontrei pelo caminho.
que presumindo saber tudo não se instruem.
Fui buscar os segredos do Universo e voltei
invejando os cegos que encontrei pelo caminho.
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O que realmente possuo?
O que restará de mim depois da morte?
É tão breve a vida, uma fogueira:
Chamas, e depois, cinzas.
O que restará de mim depois da morte?
É tão breve a vida, uma fogueira:
Chamas, e depois, cinzas.
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Não pedi para nascer. Recebo, sem espanto ou ira,
o que a vida me entrega. Um dia hei de partir;
não me importa saber qual o motivo
da minha misteriosa passagem pelo mundo.
o que a vida me entrega. Um dia hei de partir;
não me importa saber qual o motivo
da minha misteriosa passagem pelo mundo.
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O amor que não consome, não é amor;
a brasa tem o mesmo calor de uma fogueira?
Aquele que ama, pelas noites e dias,
vai se consumindo no prazer e na dor.
a brasa tem o mesmo calor de uma fogueira?
Aquele que ama, pelas noites e dias,
vai se consumindo no prazer e na dor.
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Na terra cheia de cores alguém caminha:
não é muçulmano, não é infiel, nem pobre, nem rico;
não acredita na Verdade e não afirma nada.
Quem é esse, intrépido e triste?
não é muçulmano, não é infiel, nem pobre, nem rico;
não acredita na Verdade e não afirma nada.
Quem é esse, intrépido e triste?
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Quando eu não mais viver, não haverá mais rosas,
nem lábios vermelhos, nem vinhos perfumados;
não haverá auroras, nem amores, nem penas:
o Universo terá acabado, pois ele é o meu pensamento.
nem lábios vermelhos, nem vinhos perfumados;
não haverá auroras, nem amores, nem penas:
o Universo terá acabado, pois ele é o meu pensamento.
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Vai um cavaleiro pelas sombras do entardecer.
Aonde irá, por serras e por vales?
e onde estará deitado amanhã?
Sobre a terra, ou debaixo dela?
Aonde irá, por serras e por vales?
e onde estará deitado amanhã?
Sobre a terra, ou debaixo dela?
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Mais outra aurora. Como em todas as manhãs,
deparo a beleza do mundo, e não posso agradecer:
há tantas rosas, tantos lábios. Vem minha amiga,
pousa o teu alaúde, os pássaros estão cantando.
deparo a beleza do mundo, e não posso agradecer:
há tantas rosas, tantos lábios. Vem minha amiga,
pousa o teu alaúde, os pássaros estão cantando.
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Omar Ibn Ibrahim El Khayyam nasceu em Nichapur, na Pérsia, o atual Irã, em 1040 e morreu nessa mesma cidade em 1120.
Khayyam significa, em persa, fabricante de tendas; ele adotou esse nome em memória do pai que era fabricante de tendas.
Além de poeta Omar Khayyam foi matemático e astrônomo. Dos seu livros de ciência chegaram até nós o Tratado de Algumas Dificuldades das Definições de Euclides e as Demonstrações dos problemas de Álgebra. Em 1074, diretor do Observatório de Merv, fez a reforma do calendário muçulmano.
Rubaiyat é o plural da palavra persa rubai, e quer dizer quadras, quartetos. No rubai, o primeiro, o segundo e o quarto versos são rimados, o terceiro é branco.
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http://www.alfredo-braga.pro.br/poesia/rubaiyat.html
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