quinta-feira, 31 de julho de 2008













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Luz Cadente
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Serão miragens
aqueles tons em cobre
ondulando em folhas na tarde?
Meus olhos devem andar poéticos
ou delirantes.
ou mais febril a minha percepção
que entende
que os animais atendem
às nuances que aquela luz poente concede.
Luz e folha devem ter naturezas atadas
em delicado, intraduzível elo
que traça o pássaro ao ninho.
Não sei.
O que para as aves deve ser
algo como arbóreas núpcias
em mim
é um degredo em ecos,
um vago ruflar de um sentido.
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Minha razão nada pode
contra a luz cadente
que vela e desvela
aquele tom amêndoa
- ferrugem quase dor,
quase leve -
que a alma agora consente.
E que de volta
à presciência do mundo,
ao ninho da terra
vai me cumprindo.
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E o céu também
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Deus , e meus diábolos,
mais o amor que move as sombras
e me toca os lábios.
Eu e você, tudo isso,
e o céu também.
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Gitano
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amor cigano
é bela viola
oco de dentro
em canto por fora
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asas que arrastam
é ave rompante
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beijos que explodem
e viram abóbora
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luas em transe
vagas de mar
jades que chamam
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areias que cedem
- sereia de tranças
onde vou me enredar
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febre do mato
amor vagalume
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vinhos que encorpam
em porres baratos
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grifes que deixam
perfumes prescritos
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fome de romãs
nos entreatos
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(Fernando Campanella, 2006)
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Aprendiz
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E agora costuramos nossos jogos de bem-me-quer, não-me-quer , fase em que nos alinhavamos no infecundo círculo da incerteza emocional... arriscamos aqui mergulhar num abismo sem fim, sem pausa para retomarmos nosso próprio ar, para inspirarmos, eu sem você, você sem mim, as isentas, vitais alegrias que eclodem à luz do dia. (Ah, angústia de amor jamais suprido, mar de vai-e-vens descomunais) ...mas o aprendizado da alma é bem assim, dizem os doutos sábios: mergulhar, mergulhar, e subir. Então sou aprendiz de mim.
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O poeta Antonio Fernando Campanella Cruz ( Fernando Campanella), nasceu em Pouso Alegre, sul de MG. É graduado em Letras (Português e Inglês) e professor de Inglês em sua cidade. Começou a escrever poemas em 1982 e vem se dedicando à fotografia, como amador, desde 2007. Dois marcos, fatores determinantes em sua determinação em escrever poesia: a leitura do poema 'Tabacaria", de Fernando Pessoa, por uma professora de Língua Portuguesa quando cursava o primeiro ano clássico em Belo Horizonte, aos quinze anos; o segundo momento determinante foi o incentivo de Adélia Prado, reconhecida mineira, após ler alguns de seus primeiros poemas , nos idos de 1987. A carta de Adélia assim dizia: "Caro Fernando, fiquei extremamente feliz ao ler seus escritos, pois são de um poeta. E para poeta não se dão conselhos. Escreva, escreva, para sua e nossa alegria. Como fiquei feliz. Pentecostes está chegando, que seu coração se incendeie de poesia. Não fique ansioso, Deus quando dá o dom, dá os meios..."
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