segunda-feira, 21 de março de 2011

Hei de amoldar-me a ti como o rio a seu leito



Hei de amoldar-me a ti como o rio a seu leito,
como o mar a sua praia, como a espada a sua bainha.
Hei de correr em ti, hei de cantar em ti,
hei de guardar-me em ti de agora em diante.
Fora de ti há de me sobrar o mundo, como ao rio sobra
o ar, ao mar a terra, à espada a mesa do convite.
Dentro de ti não há de me faltar brancura do limo para
minha corrente, perfil de vento para minhas ondas,
ajuste e repouso para meu aço.
Dentro de ti está tudo; fora de ti não há nada.
Tudo o que tu és está em seu lugar,
tudo o que não sejas tu me há de ser vão.
Caibo em ti, estou feita a tua medida;
mas se for em mim onde algo falte, cresço...
Se for em mim onde algo sobre, corto.

Dulce María Loynaz


* Pintura de Alex Grey

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