quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Soneto de Constatação — XXVII




Amor — única síntese da vida.
E o só se atinge por curvas, de viés:
se se quiser amar
— tem-se que conceder;
se se quer ser amado
— tem-se que denegar.


Infunde náusea ou júbilo, sem meio-termo.
Se às vezes satisfaz, quase sempre contraria:
queremos reter o gozo
— desliza na fruição;
queremos deter a dor
— se petrifica na mágoa.


Põe um sentido à vida
fugaz — por já passando;
pospõe-lhe um sem-sentido
constante — por presente.
E nos larga no éter, sem referência e sem volta.


Amante
não se sabe o que fazer com esta graça.
Amado
não se sabe o que fazer com esta fonte.


Triste: só o não-amante sabe ser amado.

Pedro Lyra

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