quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Trechos do Rubayat - Omar Khayyam


( Omar Khayyam )


Quando eu não mais viver, não haverá mais rosas,
nem lábios vermelhos, nem vinhos perfumados;
não haverá auroras, nem amores, nem penas:
o Universo terá acabado, pois ele é o meu pensamento.

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Que pobre o coração que não sabe amar
e não conhece o delírio da paixão.
Se não amas, que sol pode te aquecer,
ou que lua te consolar?
**

Khayyam


Cristãos, judeus, muçulmanos, rezam,
com medo do inferno; mas se realmente soubessem
dos segredos de Deus, não iam plantar
as mesquinhas sementes do medo e da súplica.

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O vasto mundo: um grão de areia no espaço.
A ciência dos homens: palavras. Os povos,
os animais, as flores dos sete climas: sombras.
O profundo resultado da tua meditação: nada.

**
Eu estava com sono e a Sabedoria me disse:
A rosa da felicidade não se abre para quem dorme;
por que te entregares a esse irmão da morte?
Bebe vinho; tens tantos séculos para dormir.

**
É inútil a tua aflição;
nada podes sobre o teu destino.
Se és prudente, toma o que tens à mão.
Amanhã... que sabes do amanhã?

**
Além da Terra, pelo Infinito,
procurei, em vão, o Céu e o Inferno.
Depois uma voz me disse:
Céu e Inferno estão em ti.

**
Tenho igual desprezo por libertinos ou devotos.
Quem irá dizer se terão o Céu ou o Inferno?
Conheces alguém que visitou esses lugares?
E ainda queres encher o mar com pedras?

**
Como o rio, ou como o vento,
vão passando os dias.
Há dois dias que me são indiferentes:
O que foi ontem, o que virá amanhã.

**
Não me lembro do dia em que nasci;
não sei em que dia morrerei.
Vem, minha doce amiga, vamos beber desta taça
e esquecer a nossa incurável ignorância.

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É inútil te afligires por teres pecado;
também é inútil a tua contrição:
além da morte estará o Nada,
ou a Misericórdia.

**

( Chakravyou )


Admito que já resolveste o enigma da Criação;
e o teu destino? Aceito que desvendaste a Verdade;
e o teu destino? Está bem, viveste cem anos felizes
e ainda tens muitos para viver; e o teu destino?

**
Ninguém desvendará o Mistério. Nunca saberemos
o que se oculta por trás das aparências.
As nossas moradas são provisórias, menos aquela última.
Não vamos falar, toma o teu vinho.

**
Olha, um dia a alma deixará o teu corpo
e ficarás por trás do véu, entre o Universo
e o desconhecido. Enquanto não chega a hora,
procura ser feliz. Para onde irás depois?

**

Kurma Avatara
Incarnation of Lord Vishnu


Os sábios mais ilustres caminharam nas trevas da ignorância,
e eram os luminares do seu tempo.
O que fizeram? Balbuciaram algumas frases confusas,
e depois adormeceram, cansados.

**
O mundo gira, distraído dos cálculos dos sábios.
Renuncia à vaidade de contar os astros
e lembra-te: vais morrer, não sonharás mais,
e os vermes da terra cuidarão da tua carcaça.

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Sono sobre a terra, sono debaixo da terra.
Sobre a terra, sob a terra: homens deitados.
Nada em toda a parte. Deserto.
Homens chegam, outros partem.

**

Dhumawati the Goddness who widows herself


Enquanto o rouxinol lhe entoava um hino,
murchou a bela rosa por causa do vento sul.
Lamentaremos por ela ou por nós?
Quando morrermos, outra rosa desabrochará.

**
Se não tiveste a recompensa que merecias,
não te importes, não esperes nada;
já estava tudo nas páginas daquele livro
que o vento da eternidade vai virando ao acaso.

**
Quando me falam das delícias que na outra vida
os eleitos irão gozar, respondo:
Confio no vinho, não em promessas;
o som dos tambores só é belo ao longe.

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O bem e o mal se entrelaçam no mundo.
Não agradeças ao Céu
pela sorte que te coube, nem o acuses:
Ele é indiferente.

**
Se em teu coração cultivaste a rosa do amor,
quer tenhas procurado ouvir a voz de Deus,
ou esgotado a taça do prazer,
a tua vida não foi em vão.

**

A Deusa e a Serpente
Rafael Nobre


Vai com prudência, viajante.
A estrada é perigosa, a adaga do destino
é acerada. Não colhas as amêndoas doces,
são venenosas.

**
Ouve o que a Sabedoria diz todos os dias:
A vida é breve.
Não te esqueças, não és como certas plantas
que rebrotam depois de cortadas.

**
O meu nascimento não aumentou o Universo,
nem a minha morte lhe fanará o esplendor.
Ninguém me dirá por quê vim ao mundo,
ou porque um dia irei embora.

**
Não te inquietes, a vida é como um suspiro.
As cinzas de Djenchid e de Kai-Kobad volteiam
na poeira vermelha que tolda o ar.
O Universo é uma miragem, a vida é um sonho.

**
Senta-te e bebe, felicidade que Mahmud não teve.
Escuta os sussuros dos amantes, são os Salmos de Davi.
Não te importes com o passado, não sondes o futuro,
não percas este instante: Eis a paz.

**
Não temo a morte. prefiro esse ato inelutável
ao outro que me foi imposto no dia em que nasci.
O que é a vida, afinal? Um bem que me confiaram
sem me consultarem e que entregarei com indiferença.

**
Falam de um Criador...
e Ele deu forma às criaturas para destruí-las?
Por que são feias? Por que são belas?
Quem é o responsável? Não compreendo nada.

**
Todos pretendem andar pelo Caminho do Saber.
Uns o procuram, outros afirmam tê-lo encontrado.
Um dia uma grande voz dirá: Não há caminho,
nem atalho.

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No turbilhão da vida são felizes aqueles
que presumindo saber tudo não se instruem.
Fui buscar os segredos do Universo e voltei
invejando os cegos que encontrei pelo caminho.

**
Em que pensas? Nos que já morreram? São pó no pó.
Pensas nas virtudes que tiveram? Sim? Deixa-me sorrir.
Toma este copo, vamos beber; ouve sem inquietação
o vasto Silêncio do Universo.

**
Não faças planos para amanhã.
Sabes se poderás terminar a frase que vais dizer?
Talvez amanhã estejamos tão longe deste albergue,
como os outros que já se foram há sete mil anos.

**
Não terás paz na terra, e é tolice acreditar
no repouso eterno. Depois da morte
teu sono será breve: renascerás na erva
que será pisada, ou na flor que murchará.

**
O que realmente possuo?
O que restará de mim depois da morte?
É tão breve a vida, uma fogueira:
Chamas, e depois, cinzas.

**
Convicção e dúvida, erro e verdade:
são palavras, como bolhas de ar;
brilhantes, ou baças: vazias,
como a existência dos homens.

**
Não pedi para nascer. Recebo, sem espanto ou ira,
o que a vida me entrega. Um dia hei de partir;
não me importa saber qual o motivo
da minha misteriosa passagem pelo mundo.

**
Colhe os frutos que a vida te oferece
e escolhe as taças maiores;
não creias que Deus vá fazer as contas
dos teus vícios e das tuas virtudes.

**
Alguns sábios da Grécia sabiam propor enigmas?
É absoluta a minha indiferença por tanta inteligência.
Dá-me vinho, minha amiga; deixa-me ouvir o alaúde,
olha como lembra o vento que passa, como nós.

**
Somos os peões deste jogo do xadrez
que Deus trama. Ele nos move, lança-nos
uns contra os outros, nos desloca, e depois
nos recolhe, um a um, à Caixa do Nada.

**
O amor que não consome, não é amor;
a brasa tem o mesmo calor de uma fogueira?
Aquele que ama, pelas noites e dias,
vai se consumindo no prazer e na dor.

**
Na terra cheia de cores alguém caminha:
não é muçulmano, não é infiel, nem pobre, nem rico;
não acredita na Verdade e não afirma nada.
Quem é esse, intrépido e triste?

**
Um dia pedi a um velho sábio
que me falasse sobre os que já se foram.
Ele disse:
Não voltarão. Eis o que sei.

**
Olha, a rosa estremece ao sopro do vento;
um pássaro entoa um hino; uma nuvem paira.
Bebe, e esquece que o vento vai ressecar a rosa,
levar a nuvem refrescante e o canto do rouxinol.

**
Queres saber como será o amanhã? Tolice.
Confia, ou o fado justificará os teus receios.
Não te apegues, não questiones livros nem pessoas,
nosso destino é insondável.

**
Vai um cavaleiro pelas sombras do entardecer.
Aonde irá, por serras e por vales?
e onde estará deitado amanhã?
Sobre a terra, ou debaixo dela?

**
Homem ingênuo, pensas que és sábio
e estás sufocado entre os dois infinitos
do passado e do futuro. Não podes sair.
Bebe, e esquece a tua impotência.

**
Não tragam lâmpadas, os meus amigos adormeceram;
estão imóveis, pálidos, como ficarão no túmulo.
Não tragam as lâmpadas,
os mortos não precisam delas.

**
Estudei muito e tive mestres eminentes
e me orgulhava dos meus progressos e triunfos.
Agora lembro-me do sábio que eu era: era como a água
que toma a forma do vaso, como a fumaça ao vento.

**
Rosas, taças, lábios vermelhos:
brinquedos que o Tempo estraga;
estudo, meditação, renúncia:
cinzas que o Tempo espalha.


Rubaiyat
Omar Khayyam





Omar Khayyam (Nishapur, Pérsia, 18 de maio de 1048 — 4 de dezembro de 1131), poeta, matemático e astrônomo iraniano. Seu nome completo era Ghiyath Al Din Abul Fateh Omar Ibn Ibrahim Al Khayyam.

Calculou como corrigir o calendário persa. O seu calendário tinha uma margem de erro de um dia a cada 3770 anos. Contribuiu em álgebra com o método para resolver equações cúbicas pela intersecção de uma parábola com um círculo, que viria a ser retomada séculos depois por Descartes.

A filosofia de Omar Khayyam era bastante diferente dos dogmas islâmicos oficiais. Concordou com a existência de Deus mas se opôs à noção de que cada acontecimento e fenômeno particular era o resultado de intervenção divina. Em vez disso ele apoiou a visão que leis da natureza explicam todos fenômenos particulares da vida observada.

Como poeta é conhecido pelos Rubaiyat (em português, "quadras" ou "quartetos"), que ficariam famosos no Ocidente a partir da tradução de Edward Fitzgerald, em 1839.

O nome Khayyam significa "fazedor de tendas", a profissão do pai de Omar, Ibrahim. Omar Khayyam estudou filosofia e ciências nas cidades de Nishapur, Balk e Samarcanda. Foi astrônomo da corte do sultão Malik Xá. Junto com outros astrônomos, foi encarregado de reformar o calendário e ficou famoso ao corrigir o calendário persa, em 1079, com grande precisão.

Como matemático e geômetra, Khayyam elaborou uma vasta obra, da qual restam apenas dois volumes. Entre suas principais contribuições à matemática estão a solução de equações de segundo grau e a demonstração da impossibilidade de resolução de equações de terceiro grau com números inteiros. Omar Khayyam elaborou vários trabalhos desenvolvendo a geometria euclidiana.

A obra mais famosa de Omar Khayyam, no entanto, está no terreno da literatura. Seu livro mais célebre, conforme se disse, chama-se "Rubayat" e compõe-se de uma coleção de mais de mil poemas de quatro versos. "Rubayat" é o plural da palavra persa "rubai", que significa "quadras". No "rubai", o segundo e o quarto versos são rimados. A difusão da poesia de Khayyan no ocidente deve-se à tradução de seus versos para o inglês, feita em 1859 pelo britânico Edward Fitzgerald.

A tradução mais conhecida da obra de Omar Khayyam em português foi feita por Otávio Tarquínio de Sousa, embora vários outros poetas e escritores tenham se sensibilizado com a beleza do Rubayat, como Fernando Pessoa e Manuel Bandeira.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Omar_Khayyam

http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u470.jhtm

http://www.omarkhayyam.kit.net/indexomar.htm

3 comentários:

Jaqueline Sales disse...

São palavras profundas, e me fez lembrar o Bhaghava Gita em outra versão.

Hoje estivemos na Marta. Paasamos o dia lá, e foi bacana. Faltou voce, Sylvia.

Beijooooooooooosssssss

Jaqueline Sales disse...

ABRA O SEU E-MAIL. PARECE QUE A AUDIÊNCIA SERÁ NA TERÇA, 02/02/2010.

Anônimo disse...

http://www.alfredo-braga.pro.br/poesia/rubaiyat.html