segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Pistas práticas para cuidar da Terra (I)






Dois princípios são fundamentais na superação da atual crise pela qual passa o planeta Terra: a sustentabilidade e o cuidado.

A sustentabilidade,assentada na razão analítica, tem a ver com tudo o que é necessário para garantir a vida e sua reprodução para as atuais e as futuras gerações.

O cuidado, fundado na razão sensível e cordial refere-se aos comportamentos e às relações para com as pessoas e para com a natureza, marcadas pelo respeito à alteridade, pela amorosidade, pela cooperação, pela responsabilidade e pela renúncia a toda espécie de agressividade.

Articulando estes dois princípios poderemos devolver equiíbrio e vitalidade à Terra. Oferecemos algumas sugestões práticas no sentido de cada um fazer a sua revolução molecular (Guatarri): aquela que começa pela própria pessoa, base para a grande virada de todo o sistema. Eis algumas:

Alimente sempre a convicção e a esperança de que outra relação para com a Terra é possível, mais em harmonia com seus ciclos e respeitando os seus limites.

Acredite que a crise ecológica não precisa se transformar numa tragédia, mas numa oportunidade de mudança para um outro tipo de sociedade mais respeitadora e includente.

Dê centralidade ao coração, à sensibilidade, ao afeto, à compaixão e ao amor pois são estas dimensões que nos mobilizam para salvar a Mãe Terra e seus ecossistemas.

Reconheça que a Terra é viva mas finita, semelhante a uma nave espacial, com recursos escassos e limitados.

Resgate o princípio da re-ligação: todos os seres, especialmente, os vivos, são interdependentes, e por isso têm um destino comum. Devem conviver fraternalmente entre si.

Valorize a biodiversidade e cada ser vivo ou inerte, pois tem valor em si mesmo independentemente do uso humano.

Reconheça as virtualidades contidas no pequeno e no que vem de baixo, pois aí podem estar contidas soluções globais.

Quando não encontrar uma solução, confie na imaginação criativa, pois ela esconde em si respostas surpreendentes.

Tome a sério o fato de que para os problemas da Terra não há apenas uma solução, mas muitas que devem surgir do diálogo, das trocas e das complementariedades entre todos.

Exercite o pensamento lateral, quer dizer, coloque-se no lugar do outro e tente ver com os olhos dele. Assim verá dimensões diferentes e complementares da realidade.

Respeite as diferenças culturais (cultura camponesa, urbana, negra, indígena, masculina, feminina etc), pois todas elas mostram formas diversas de sermos humanos.

Supere o pensamento único do saber dominante e valorize os saberes cotidianos, do povo, dos indígenas e dos camponeses porque corroboram na busca de soluções globais.

Cobre que as práticas científicas sejam submetidas a critérios éticos a fim de que as conquistas beneficiam mais à vida e à humanidade que ao mercado e ao lucro.

Não deixe de valorizar a contribuição das mulheres porque são portadoras naturais da lógica do complexidade e são mais sensíveis a tudo o que tem a ver com a vida.

Faça um opção consciente por uma vida de simplicidade que se contrapõe ao consumismo. Pode-se viver melhor com menos, dando mais importância ao ser que ao ter e ao aparecer.

Cultive os valores intangíveis quer dizer, aqueles bens relacionados à espiritualidade, à gratuidade, à solidariedade, à cooperação e à beleza como os encontros pessoais, as trocas de experiências, o cultivo das artes especialmente da música.

Mais que parte do problema, considere-se parte de sua solução.

Leonardo Boff
http://www.leonardoboff.com/site/lboff.htm

Um comentário:

prafrente disse...

Sylvia

Em Portugal utilizam a expressão "chover no molhado...".
Eu creio que tem de haver algo mais eficaz para transmitir a mensagem de que é necessário um novo paradigma social para retardar a destruição do planeta.Como médica você sabe que o tabaco provoca o câncer mas mesmo quem tem essa doença continua fumando...
Quando vejo os esforços norte americanos para encontrar vida em outro planeta eu penso que os mais ricos da américa querem mudar de planeta e deixar que os pobres morram cá em baixo ...

beijinho de Portugal