quarta-feira, 25 de março de 2009

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Jean-Yves Leloup
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A Arte da Atenção - para viver cada instante em sua plenitude
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A linguagem do poeta, a linguagem da arte, é talvez uma das linguagens que poderia ser utilizada para ousarmos falar a respeito de Deus porque trata-se de uma linguagem que não nos confina, não conceitualiza,, não distribui rótulos, mas nos deixa livres e nos convida a fazer uma experiência, a empreender uma transformação.

A imagem que me ocorre, é a de alguém que escava em busca de uma nascente que jorra; não basta falar de nascente, não basta falar de água, é também necessário escavar seu poço, avançar em direção à água viva que está no fundo, assim como em direção à água viva que jorra. Não basta escavar para que apareça a água viva , mas o fato de escavar irá permitir que reencontre a água viva que jorre. Além de nossa tentativa, de nossa busca em direção às profundezas, temos que reconhecer que não é o fato de escavarmos, não são nossas enxadas que irão criar a água. Do mesmo modo que não é o despertador que fará o dia nascer... No entanto, convém tomarmos consciência de que o dia está aí!

Trata-se de despertarmos, de escavarmos, de avançarmos em direção à nascente e de sabermos que essa não é nossa propriedade: ela jorra, ela nos é oferecida. Nesse momento surge a palavra graça. independentemente de seguirmos uma via zen ou de ioga, o autêntico mestre ou discípulo sabe perfeitamente que não é esse exercício que irá provocar a iluminação. O exercício, a meditação, o método, todas as técnicas utilizadas tornam-se somente disponíveis à experiência.

Aqui identificamo-nos com a tradição antiga dos Padres do deserto que dizia: “Existe o trabalho do homem, a ascese, a liberdade do homem, e , ao mesmo tempo, a graça.“ E´como um pássaro que para voar, tem necessidade de duas asas, ou seja, de sua liberdade, de seu trabalho, interior e, ao mesmo tempo, da graça, isto é, da nascente que jorra em direção ao seu esforço, ao ato de escavar. Por um lado, o trabalho do homem procura Deus; por outro, como uma fonte de água viva, Deus empenha-se unicamente em comunicar-se e manifestar-se a cada um de nós.
Jean-Yves Leloup
Editora Verus 2002

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.Uma Centelha
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Todo incêndio
Começa com uma fagulha,
Uma fagulha incandescente
que irradia seu calor, sua luz...
Uma centelha de luz
que nos desperta
ou nos destrói.
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Vele pelos seus pensamentos.
Eles iluminam,
mas eles também podem turvar o mundo...
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Toda manhã
busca a centelha, a fagulha, o lampejo
que fazem arder em ti o dia...
Não nascemos apenas para ver as coisas,
mas para ver o dia onde nos aparecem as coisas...
Muitos morrem sem jamais terem visto o dia...

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Escritor, PhD em Psicologia Transpessoal, filósofo, sacerdote hesicasta – aquele que dedica sua existência ao mergulho no universo interior e à prece -, poeta e notável intérprete das palavras de Cristo, entre outros tantos títulos, Jean-Yves Leloup nasceu na cidade de Angé, na França, em 24 de janeiro de 1950. Seus pais eram Pierete Leloup Bienvenue e Jean Claude Leloup.
Integrante da Igreja Ortodoxa, ele é defensor ardoroso da união entre ciência e espiritualidade, tema mais desenvolvido em sua obra. Perito em conferências, um dos mais solicitados no continente europeu, divulga por todos os recantos do Planeta suas idéias claramente holísticas. Ele é inclusive presidente da Universidade Holística Internacional de Paris, bem como orientador do Colégio Internacional dos Terapeutas. Leloup é considerado um dos filósofos mais consagrados dos nossos dias. Ele visita freqüentemente o Brasil, geralmente durante eventos produzidos pela Universidade da Paz – Unipaz. Na sua obra e nas suas palestras ele aborda de forma profunda os textos sagrados, e incentiva seu público a uma ampla meditação sobre as realidades espirituais no cotidiano da vida moderna. Estimula também uma formação transdisciplinar, uma integração entre as várias dimensões do conhecimento. Ele publicou mais de cinqüenta livros; traduziu e comentou os Evangelhos de Tomé, Maria de Magdala, Felipe e João. Entre outros volumes, escreveu Cuidar do Ser"; "Caminhos da Realização"; "O Espírito na Saúde"; "Terapeutas do Deserto"; O Evangelho de Tomé"; "Caminhos da Cura"; "O Corpo e seus Símbolos"; "O Evangelho de Maria"; "Desertos, desertos"; "A Arte de Morrer"; "Palavras da Fonte", "O Evangelho de João"; "Carência e Plenitude"; "Sinais de Esperança"; "Além da Luz e da Sombra"; "Antigos e Novos Terapeutas"; "A Montanha no Oceano" e "Uma Arte de Amar para os Nossos Tempos."Sobre a Igreja Ortodoxa, Leloup afirma que a ortodoxia é a face do cristianismo primitivo, que era na verdade uma união de várias igrejas – Jerusalém, Antioquia, Éfeso, Roma. Houve uma ruptura no século XII, por iniciativa da sede romana. As outras preservaram a conjunção. Justificando a recorrência das discussões sobre o deserto em sua obra, ele afirma ser ele o símbolo do silencio, fonte da palavra, e também para onde ela retorna. Ele também representa o vazio, origem de tudo que existe, o mesmo espaço que aguarda a volta da criação. Jean-Yves Leloup também criou um neologismo que define de forma magistral o comportamento de grande parte das pessoas que habitam o universo contemporâneo – a normose. Esta expressão refere-se às práticas normalmente aceitas pelo consenso social, pelas regras convencionais, mas que na verdade se configuram em hábitos que muitas vezes provocam prejuízos irreversíveis. Por exemplo, o consumismo desenfreado que hoje coloca em risco nosso Planeta - são ‘normais’ os que aderem a este costume nocivo, e ‘loucos’ os que combatem este comportamento. Segundo Leloup, os primeiros são os normóticos – normais patológicos -, mesmo que não tenham consciência disso. Estes e outros temas, como a reencarnação, Deus, o conceito do sagrado, as lembranças da dimensão corporal, a interação entre o indivíduo e a sociedade, a visão sobre a morte, a jornada humana, a intolerância religiosa, são amplamente debatidos por este filósofo do século XXI.



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2 comentários:

Unknown disse...

Boa noite
Estes dois textos são fantásticos.
Procurar e encontrar a água viva.
Certamente estamos muito perto todos os dias, mas nem sempre queremos ver e beber dessa água.
Quantos dias faço destes temas uma oração mas muitos outros sigo na rotina não reparando na importância que a água tem na nossa vida.

Parabéns pelo poema da duas metades que se completam e dão felicidade.
O pensamento e a vida estão ligados e tantas vezes tambem o destino nos põe de costas votadas.Não há conselhos nem palavras para consevar unidas as duas partes. Talvez a nossa desatenção e desinteresse leve as nossas vidas para esse lado.
Que Maria de Nazaré nos guarde a todos e que nos ajude a construir em cada dia uma família de corpo inteiro.
Beijinhos Sylvia e que tenha um bom dia de amanhã junto àquela Fonte de Água Viva que é Jesus.

Anônimo disse...

Olá Sylvia!
Vi o seu perfíl no Blogspot e achei você uma pessoa interessante, pois está preocupada com o seu mundo interior, isso é bom.
Portanto convido-lhe a acessar o meu bloque e deixar algum comentário se assim desejar. Meu endereço é:
http://saudeespiritualidade.blogspot.com/
Atenciosamente
Francisco Oliveira