sexta-feira, 22 de agosto de 2008

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Maria Jania Teixeira
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TU E EU
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A luz de uma estrela única
Brilha na noite alegre,
Na centelha do teu olhar,
E se reflete dentro de mim.
Ai, ardente paixão!
Amanhã será um dia novo,
Sem saudade do ontem.
Apenas desejando o depois.
Sonho em ti, amor.
Tuas mãos feitas de procura
Tocam-me o corpo com ternura.
Vejo-te através da névoa,
Vieste, amor,
Enfim vieste até mim.
Cruzaste o portal de ti mesma
E seguiste esta vereda
Que te trouxe até mim.
Agora não estamos mais sós
Dentro de muros frios.
Somos tu e eu...
Tão perto o nós!
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VIDENTE DA DOR
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Não serei eu a te falar
Em espaço sideral,
Em lua cheia e bola de cristal.
Não conheço as linhas das mãos,
Não conheço premonições,
Não acredito em milagres,
Nem também em superstições.
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Não serei eu a te falar
Em coisas transcendentais,
Mistérios e segredos orientais.
Nada entendo de baralhos,
Magias, búzios e sonhos celestiais.
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Mas eu te falarei sobre essas marcas
Que trago no meu rosto esquálido,
Tão vívidas, profundas e reais!
Marcas de sofrimento e dor.
Marcas que expressam em vida
O quadro de quem muito amou.
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ESSÊNCIA
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Dizes que o belo te seduz.
Queres o belo
E o resto pouco te importa.
Mas tu não sabes
que o belo
sem nenhuma essência
é vida sem vida?
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Tu não percebes,
mas o belo
sem essência
não tem sentido.
E o feio
tem sentido
na medida
que se vê
sua essência.
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RENASCER
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Quando tudo for escuridão
E nem uma réstia de luz puder ser vista
Quando tudo for silêncio profundo
E não se puder ouvir o ciciar das folhas
Quando mais nada tiver
Para ser dito e explicado
Quando todos os olhos fecharem
Todas as bocas calarem
Quando a esperança for sepultada
E além do horizonte
Nenhum arco-íris for reconhecido
Quando tudo morrer...
Então será preciso recomeçar
Dar-se ao infinito
E renascer...
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OFERENDA II
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Pediste-me uma oferta,
uma dádiva...
Dei-te flores silvestres,
perfumadase delicadas.
Dei-te sonhos de castelos
encantados,
com vassalos e rainha.
Dei-te sorrisos e atavios
os mais belos
e meigos que tinha.
E não quisestes.
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Doei-me inteira, então,
Feita só de coração;
Mesmo assim, ainda dizes
que não é suficiente.
O que mais posso oferecer?
Um poeta só tem sonhos,
O que mais podes querer?
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REENCONTRO
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Quando nos encontrarmos
Outra vez
Não sei o que te direi
Nem o que sentirei...
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Não sei como me receberás.
Talvez não falemos nada,
Seremos só olhos e coração.
E o que tivermos para dizer
Ficará palpitando no peito,
Feito um furacão.
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NEM ME LEMBRO MAIS
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Tinha as mãos repletas de ternura
Tão ansiosas pra te amar
Tinha os braços vazios
Tão sedentos pra te abraçar
Você não saberá jamais
O quanto tinha esperado por ti
O quanto tinha sonhado em ti
Por um segundo ou uma vida inteira
Nem me lembro mais
Tinha a alma repleta de ternura
Tão louca pra te encontrar
Tinha a boca assim sedenta
Tão ansiosa pra te beijar
Você não saberá jamais
O valor do bem que eu te tive
Todo um século, todo um momento!
Um tempo maior do que uma rosa vive
Nem me lembro mais!
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CONCHAS E SONHOS
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Não vou mais catar conchas pra você
Outra pessoa o fará no meu lugar:
Conchas pequenas e grandes
Coloridas e translúcidas,
Onde você poderia escutar o som do mar.
Não vou mais catar sonhos pra você
Outra pessoa o fará no meu lugar:
Sonhos coloridos e dourados,
Tão cheios de caminhos e encantos.
Agora, quando a luz da lua minguante,
Banhar-me a alma extenuada,
E as algas roçarem meus pés descalços;
Eu saberei que é melhor
Seguir sozinha na noite nua e estagnada
Do que acompanhar enganada
A trilha dos teus passos...
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Sou a quarta filha de uma família de seis filhos, nasci e cresci em uma cidade do Ceará, chamada Itapipoca, nome indígena que significa "pedra lascada, partida". Meu pai era farmacêutico, e como ele havia decidido que eu seria a próxima farmacêutica da família, quando eu não estava estudando ou brincando, estava por trás dos velhos balcões de sua farmácia, bebendo avidamente de sua sabedoria e sonhando ser como ele. Amava o ambiente da farmácia e a idéia de seguir a carreira de farmacêutica sempre foi muito óbvia para mim. No momento certo, eu e meus irmãos mais velhos fomos estudar na capital, Fortaleza. Fiz farmácia, me especializei em análises clínicas, mas algo muito forte me aconteceu nos últimos anos de faculdade - eu fui apresentada a pesquisa e por ela fiquei completamenteapaixonada. Ao terminar meu curso de farmácia achei que precisava trabalhar um tempo com meu pai na farmácia, eu queria ter essa experiência ao lado dele, dessa vez com mais formação e mais preparada, embora eu soubesse que era apenas temporário.
Ao mesmo tempo não abandonei a pesquisa, continuei fazendo trabalho dentro da área que eu adoro, a imunoparasitologia. Por 5 anos tive meus dois amores e lidava bem com os dois. Mas então chegou o dia que tive que tomar a decisão de escolher apenas um dos amores, e escolhi minha paixão maior, a pesquisa. Meu pai entendeu e aceitou, o que me confortou muito. Voltei para Fortaleza e desta vez para fazer Mestrado, Doutorado e seguir definitivamente uma carreira acadêmica. Durante este período de formação acadêmica, a poesia esteve trancada dentro de mim, como um Ícaro prisioneiro, eu a sentia lá, mas não estava ainda pronta para deixá-la sair outra vez. Agora, tenho-a de volta, liberta, outra vez dona de si mesma. Minha poesia é, em primeiro lugar, o fruto de sentimentos humanos transformados em versos. Talvez não haja sinais de renovação ou inquietação neles, como seria o esperado em uma poetisa estreante, porém, o que de fato espero é que meus versos tornem-se capazes de resistir a leituras seguidas e não se percam no tempo, como folhas mortas de outono.
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Sylvia

Fique a vontade para utilizar meus poemas em seu blog, será uma grata satisfação para mim.
Sempre fico muito feliz quando vejo que o que escrevo tem um real significado não só para mim mas para outras pessoas.
Fico-lhe grata pela consideração.
Depois dou uma passada em seu blog.
Abraço

M. Jania Teixeira

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