quinta-feira, 17 de junho de 2010

Sensorial


( 13 de dezembro de 1935, em Divinópolis-MG) )

Obturação, é da amarela que eu ponho.
Pimenta e cravo,mastigo à boca nua e me regalo.
Amor, tem que falar meu bem,
me dar caixa de música de presente,
conhecer vários tons pra uma palavra só.
Espírito, se for de Deus, eu adoro,
se for de homem, eu testo com meus seis instrumentos.
Fico gostando ou perdôo.
Procuro sol, porque sou bicho de corpo.
Sombra terei depois, a mais fria.

Adélia Prado


Adélia Luzia Prado Freitas (Divinópolis, 13 de dezembro de 1935) é uma escritora brasileira. Seus textos retratam o cotidiano com perplexidade e encanto, norteados pela sua fé cristã e permeados pelo aspecto lúdico, uma das características de seu estilo único.
Segundo Carlos Drummond de Andrade, "Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis".
A escritora também é referência constante na obra de Rubem Alves.
Professora por formação, exerceu o magistério durante 24 anos, até que sua carreira de escritora tornou-se sua atividade central.
Em termos de literatura brasileira, o surgimento da escritora representou a revalorização do feminino nas letras e da mulher como ser pensante, ainda que maternal, tendo-se em conta que Adélia incorpora os papéis de intelectual e de mãe, esposa e dona-de-casa; por isso sendo considerada como a que encontrou um equilíbrio entre o feminino e o feminismo, movimento cujos conflitos não aparecem em seus textos.
Filha do ferroviário João do Prado Filho e de Ana Clotilde Corrêa. Na rua Ceará daquela cidade do interior mineiro, Adélia Prado leva uma vida pacata. Inicia seus estudos no Grupo Escolar Padre Matias Lobato.
Em razão do falecimento de sua mãe em 1950, Adélia escreve, no mesmo ano, seus primeiros versos. No ano seguinte iniciou o curso de magistério na Escola Normal Mário Casassanta, terminando-o dois anos depois.
Muito se discute nas academias de Letras se, de fato, Adélia representa ou não a classe feminina. Em algum de seus textos, como é o caso do poema Epifania, que abre a série de seu primeiro livro Bagagem, publicado em 1976, está presente uma forte crítica ao papel da mulher na sociedade, não do ponto de vista que o termo crítica pode evocar; mas num sentido mais amplo, que é justamente o que faz das linhas adelianas um misto entre rebeldia e docura feminina-maternal. Porém, acima da crítica literária sua obra está estabelecida, pois não reclama para si nenhum tipo de subterfúgio ou bandeira. Adélia é, e pronto. Independente das controvérsias, o que está evidente em sua arte é um profundo sentimento humano advindo de uma moral tradicionalmente mineira cujas bases estão solidificadas na fé católica. E por isso mesmo nota-se também a presença dos sentimentos de uma mulher que lembra o conflito tipicamente barroco: a dicotomia entre os apelos do corpo e os de elevação espiritual. Enfim, mais do que poeta, Adélia Prado é mulher.


Obras:

Poesia
  • Bagagem, Imago - 1975
  • O Coração Disparado, Nova Fronteira - 1978
  • Terra de Santa Cruz, Nova Fronteira - 1981
  • O Pelicano, Rio de Janeiro - 1987
  • A Faca no Peito, Rocco - 1988
  • Oráculos de Maio, Siciliano - 1999
  • Louvação para uma Cor
  • A duração do dia, Record - 2010
 
No livro Cacos para um Vitral, Adélia Prado usa a metáfora do vitral para explicar a relação entre a vida e Deus

Prosa

  • Solte os Cachorros, contos, Nova Fronteira - 1979
  • Cacos para um Vitral, Nova Fronteira - 1980
  • Os Componentes da Banda, Nova Fronteira - 1984
  • O Homem da Mão Seca, Siciliano - 1994
  • Manuscritos de Filipa, romance,

Antologia

  • Mulheres & Mulheres, Nova Fronteira - 1978
  • Palavra de Mulher, Fontana - 1979
  • Contos Mineiros, Ática - 1984
  • Poesia Reunida, Siciliano - 1991 (Bagagem, O Coração Disparado, Terra de Santa Cruz, O Pelicano e A Faca no Peito).
  • Antologia da Poesia Brasileira, Embaixada do Brasil em Pequim - 1994.
  • Prosa Reunida, Siciliano - 1999

Balé

  • A Imagem Refletida - Ballet do Teatro Castro Alves - Salvador - Bahia - Direção Artística de Antônio Carlos Cardoso. Poema escrito especialmente para a composição homônima de Gil Jardim.
 
Em toda a obra de Adélia, fica evidente a sua fé católica.

Parcerias

  • A Lapinha de Jesus (em parceria com Lázaro Barreto) - Vozes - 1969
  • Caminhos de Solidariedade (em parceria com Lya Luft, Marcos Mendonça e outros) – Gente - 2001.

Obras traduzidas

Para o inglês
  • Adélia Prado: Thirteen Poems. Tradução de Ellen Watson. Suplemento do The American Poetry Review, jan/fev 1984.
  • The Headlong Heart (Poesias de Terra de Santa Cruz, O coração Disparado e Bagagem). Tradução de Ellen Watson, New York, 1988, Livingston University Press.
  • The Alphabet in the Park (O Alfabeto no Parque). Tradução de Ellen Watson, Middletown, Wesleyan University Press, 1990.
Para o espanhol
  • El Corazón Disparado (O Coração Disparado). Tradução de Cláudia Schwartez e Fernando Roy, Buenos Aires, Leviantan, 1994.
  • Bagagem. Tradução de José Francisco Navarro Huamán. México, Universidade Ibero-Americana, a sair.

Participação em antologias

  • Assis Brasil (org.). A Poesia Mineira no Século XX. Imago, 1998.
  • Hortas, Maria de Lurdes (org.). Palavra de Mulher, Fontoura, 1989.
  • Sem Enfeite Nenhum. In Prado Adélia et al. Contos Mineiros. Ática, 1984.

Referências a Adélia na obra de Rubem Alves

  • A Festa de Babette
  • Cozinha
  • Sob o Feitiço dos Livros
  • A Arte de Produzir Fome

Estudos sobre Adélia

  • A poesia e o sagrado: traços do estilo de Adélia Prado. USP, 2002. (Dissertação de Mestrado) por Isabel de Andrade Moliterno
  • Fundamentos filosóficos da poética de Adelia Prado: subsídios antropológicos para uma filosofia da educação. USP, 1996. (Dissertação de Mestrado) por Cecilia Canalle.
  • Poesia e oralidade na obra de Adélia Prado, por Rita Olivieri, PhD.
  • Epifanias do real: o olhar lírico de Adélia Prado. UEFS, 2004. (Dissertação de Mestrado) por Claudilis da Silva Oliveira.
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Um comentário:

Anônimo disse...

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Saludos.
Jorge Aloy