terça-feira, 18 de maio de 2010

Armindo Trevisan


Armindo Trevisan
( 1933 - Santa Maria-RS )


ELOGIO DA NUDEZ

Quando
me vejo nu,
carne e tamanho apenas,
sofrendo a garra de algo
que me não orna, nem me afaga

Sinto por dentro um silencio
Que me deixa inda mais nu!
Quando me vejo nu

ao sol que me rói, parado
ao sal que me entra na vida,
ao ar que me desnuda a alma

Fico no mundo sem par,
Desejando me enterrar

Ah que desnudez faminta!
no banheiro, sobre o leito,
em qualquer parte do mundo,
onde se deixe o vestido

É o próprio medo do homem,
que aparece sobre a pele

Mas é tão bom , delicioso
O jôrro de água, o unguento
O perfume, a relva, a seda
De outra carne inda mais nua

Que o terror é esquecido
Por um instante florido!

Só um homem todo nu
Pode acreditar em algo,
Num pássaro azul, em deus
Numa coisa irreversível....


EMBORA TUA CARNE

Embora tua carne seja a mesma:
quem põe no teu braseiro outro carvão,
e irrita a flama que se torna azul
para variar de língua e de bailado?
Quem faz girar o teu robolo, e afia
a lâmina que não te deixa fria?



A QUEM TE ALÇA

A quem te alça às nuvens, desvalida,
doas teu corpo. E apóias tua mão

numa outra mão, ciente de que o coito
é uma aventura de soldado afoito.

Pois essa subitânea valentia
te reconduz aos pés da noite fria,

onde tua mão é garra de animal:
e vence, de ambos, quem não desconfia.


REFÚGIO

 Às praias dão garrafas com mensagens,
ou tábuas em que flutuaram náufragos.

Às praias dão navios com equipagens,
pingüins, baleias que se desnortearam.

Não é diverso o porto de teus lábios:
ali também vão dar tristes suspiros,

Gemidos, alaridos, menoscabos,
e a alegria de giros e regiros

em que te perdes quando amas de fato,
e o teu corpo se rende a um ultimato.


PRIMAVERA

Por que será que penso nos teus lábios
quando avisto, em quintais, limões maduros?

Serão eles, dobrados sobre os muros,
Livreiros que esquadrinham alfarrábios?

Ou hão de perecer polidos cabos
Rumorejando sobre os ares puros?

Eu sempre penso nos limões: dourados,
Guardam-se incorruptíveis, e fechados.

Extraídos de A DANÇA DO FOGO.  Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2001
Armindo Trevisan



Armindo Trevisan nasceu em Santa Maria, RS, em 1933. Doutorou-se em Filosofia pela Univer­sidade de Fribourg, Suíça, com a tese Ensaio so­bre o problema da criação em Bergson (1963). Nesse mesmo ano, fez curso de aperfeiçoamento em Paris. De 1969 a 1970, e de setembro de 1974 a fevereiro de 1975, foi bolsista da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Atuou como Pro­fessor Adjunto de História da Arte e Estética na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, de 1973 a 1986. Lecionou, também, no curso de pós-graduação em Artes Visuais da UFRGS até 2000. Poeta, crítico de arte e ensaísta, tem obras traduzidas em várias línguas, especial­mente alemão, italiano, espanhol e inglês. Foi es­colhido como patrono da 47" Feira do Livro de Porto Alegre.

Alguns prêmios: Prêmio Nacional de Poesia Gonçalves Dias, da União Brasileira de Escrito­res, em 1964, pelo livro inédito A surpresa de ser; Prêmio Nacional de Brasília, para poesia iné¬dita, pelo original O abajur de Píndaro, em 1972; Prêmio APLUB de Literatura pelo livro A dança do fogo, em 1997.

Poesia: A surpresa de ser (1967), A imploração do nada (1971), Funilaria no ar (1973), Corpo a corpo (1973), O abajur de Píndaro / A fabricação do real (1975), Em pele e osso (1977), O ferreiro harmonioso (1978), O rumor do sangue, 1979, A mesa do si¬lêncio (1982), O moinho de Deus (1985), Antolo¬gia poética (1986), A dança do fogo (1995), Os olhos da noite (1997), O canto das criaturas (1998), Orações para o novo milênio (1999).

8 comentários:

Unknown disse...

O nú é uma realidade humana sem nada de mais.
As pessoas nascem nuas.
Em vida vão-se vestindo de valores que as ornam,mas por dentro continuam como nasceram - nuas
A grande riqueza das pessoas é serem transparentes na sua nudez.

Anônimo disse...

LINDO BLOG!!
PENSE LÁ NA FRENTE,
UM FUTURO NÃO DISTANTE.
SE AINDA HAVERÁ
ANIMAIS COMO O ELEFANTE...
PARE E PENSE EM UMA PLANTA
OU NUM BICHO BEM BONITO,
QUE AINDA HOJE EXISTE
E AMANHÃ PODE ESTAR EXTINTO...
PENSE LÁ NA FRENTE,
NUM FUTURO MUITO PERTO
NÃO TER VERDE, FLORES, FRUTOS
E VIVER EM UM DESERTO.
MAS NEM TUDO ESTÁ PERDIDO,
ISSO EU SEI TENHO CERTEZA,
SE CUIDARMOS COM CARINHO
DESTA NOSSA NATUREZA.
E POR ISSO É MUITO IMPORTANTE
RENOVAR O SENTIMENTO
DE CUIDAR DOS ANIMAIS
E DO REFLORESTAMENTO.

GUIDA ROSA
http://petalasroubadas.blogspot.com/

Anônimo disse...

LINDO BLOG!!
PENSE LÁ NA FRENTE,
UM FUTURO NÃO DISTANTE.
SE AINDA HAVERÁ
ANIMAIS COMO O ELEFANTE...
PARE E PENSE EM UMA PLANTA
OU NUM BICHO BEM BONITO,
QUE AINDA HOJE EXISTE
E AMANHÃ PODE ESTAR EXTINTO...
PENSE LÁ NA FRENTE,
NUM FUTURO MUITO PERTO
NÃO TER VERDE, FLORES, FRUTOS
E VIVER EM UM DESERTO.
MAS NEM TUDO ESTÁ PERDIDO,
ISSO EU SEI TENHO CERTEZA,
SE CUIDARMOS COM CARINHO
DESTA NOSSA NATUREZA.
E POR ISSO É MUITO IMPORTANTE
RENOVAR O SENTIMENTO
DE CUIDAR DOS ANIMAIS
E DO REFLORESTAMENTO.

GUIDA ROSA
http://petalasroubadas.blogspot.com/

Anônimo disse...

Hola, hay una nueva entrada en el blog del Perro. Podés hacer click aquí http://elperroelocuente.blogspot.com/
Saludos.
Jorge Aloy

Anônimo disse...

Maravilhoso!!! Convido-os a , após, visita às belas páginas do Cenário dos Sentimentos, a comparecerem ao livro de visitas para deixar um carinho para a Marise.

Cida Valadares
www.mariseribeiro.com/quarto_aniversario.htm

www.mariseribeiro.com/meus_poemas_indefinido.htm

www.mariseribeiro.com/meus_poemas_outono.htm

Anônimo disse...

Sempre soube que muitos animais estavam em extinção.
Mas o seu texto aumentou muito meu conhecimento neste assunto, Sylvia.
Muito bem lançado o seu entender.
Parabéns!

Beijos
Jorge Sader Filho
http://aduraregradojogo24x7.blogspot.com/

Anônimo disse...

Olá Sylvia Narriman,

cronicas-de-rodrigo-da-silva, deixou um comentário ao comentário FUTEBOL NUMA CRÓNICA CRÍTICA às 20:01, 2010-05-29.

Caso pretenda responder a este comentário, poderá fazê-lo, usando este link.

Comentário:
Veja se consegue ler agora. e diga-me alguma coisa beijinhos minha querida amiga e volte sempre Rodrigo da Silva

Anônimo disse...

Agradeço que visite o blogue de crónicas, acerca do tempo e espaço actuais,
de um amigo meu e comente-o lá no sítio próprio:

---> [
http://cronicas-de-rodrigo-da-silva.blogs.sapo.pt/ ]