terça-feira, 7 de julho de 2009

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Flora ( 1894)
Evelyn Pickering De Morgan
(1850-1919)
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ATÉ QUANDO TE AMAREI
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Até quando se ouvir a voz do vento
E a vontade de ser e de existir
Nem de leve me turve o sobrevir
De teu nome na paz do pensamento.
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Até quando, feliz, puder seguir
Em busca de teu vulto — e o juramento
Ardente de te amar for o momento
Mais doce a renovar e a repetir.
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Cá me encontro, Senhora, a te louvar.
Assim, com muito agrado, seguirei
A beleza, que tens, a celebrar.
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Porque se ao fim da tarde já cheguei,
Sentindo que meus dias vão findar,
Jovem — só por te amar — ainda serei.
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Artur Eduardo Benevides
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ELEGIA CEARENSE
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Longos os caminhos para os pés dos homens.
Longo o silêncio sobre os campos.
Longo o olhar que ama o que perdeu.
Já não vêm as auroras no bico das aves
nem se ouve a canção de amor dos tangerinos.
A morte nos abóia. Exaustos, resistimos.
Se se acaso caímos os nossos dedos
começam a replantar a rosa da esperança.
Ai Ceará
teu nome está em nós como um sinal
de sangue, sonho e sol.
Chão de lírios e espadas flamejantes,
território que Deus arranca dos demônios,
mulher dos andarilhos, dálida da canícula,
em nós tu mil rorejas. Pousas. És canção.
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Para cantar-te me banho em tua memória
e ouço a voz enternecida
diante de esfinges soluçando.
Oh! ver-te apunhalada — e o sol
roubando tua frágil adolescência
e ponto em tua face o esgar
de quem se sente, súbito, perdido.
Teus pobres rios secam
os galhos perdem os frutos
as aves bicam o céu
fogem as nuvens.
Então ficamos escravizados
à tua sede austera, ao teu desejo
de um dia seres bela igual às noivas
que se casam no fim dos teus invernos.
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Triste é ver as crianças finando-se nos braços
de mães alucinadas que vendo-as à morte
inda cantam de amor canções do tempo antigo.
E ficas desesperada vendo os filhos
ao longo das estradas onde há pouco
trabalhadores cantavam an entardecer.
Mudas a voz, então: és cantochão
és réquiem crescendo à sombra dos degredos
és rouca como presos que murmuram
palavras dos dias em que foram
jovens e felizes.
Para cantar-te, Bem-Amada telúrica,
seria feliz se vez de vãs palavras
tivesse em minha boca chuvas e sementes.
Ai, viúva do inverno, flor violentada,
teu sol não brilha: queima. Mas um luar
renasce sempre no olhar
dos homens.
Ó grande olhar de pedra, sede e solstício:
te dessem um novo reino e nunca aceitarias!
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Belos são os teus frutos porque difíceis.
Em cada sepultura nasce uma rosa.
Em cada filho teu o amor é como o inverno.
Jamais tu morrerás. Não seríamos fortes
se por ti não estivéssemos em vigílias cruéis, ó mãe!
Mas se as chuvas te querem
como louco partimos
para o amanho da terra.
Os campos então ficam maduros
qual ventre de mulher,
e as bocas
— tranqüilas e felizes —
gritam
palavras de amor
que erguem
primaveras.
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Artur Eduardo Benevides
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2 comentários:

Anônimo disse...

talentos incontestaveis!!

Efigênia Coutinho ( Mallemont ) disse...

Sylvia Narriman Barroso, estimada amiga, creio que nada seja por acaso, e ter sua amizade é um destes caso especiais que dou tota atençâo . Obrigada por sua mensagem , que mesmo viajando veio deixar um carinho gratificante, pela chegada de minha netinha Isabella. Creia, estamos vivendo um momento de " graça", onde eu,a filha Marianne e a Netinha Isabella, JAMAIS ESQUECEREMOS.
beijos e aproveite sua viagem,
Efigenia